Relatório: Plataformização do trabalho na Psicologia Clínica: atendimentos online, tecnoestresse e produção de conteúdos em mídias sociais

Acaba de ser publicado relatório de pesquisa organizado pelo Laboratório de Trabalho, Saúde e Processos de Subjetivação (LATRAPS-UEMG), acerca da plataformização do trabalho na psicologia clínica no Brasil, precisamente no que se refere à saúde de psicólogos(as) que atendem online e produzem conteúdos em mídias sociais

Matheus Viana Braz

11/19/20242 min read

Acaba de ser publicado relatório de pesquisa organizado pelo Laboratório de Trabalho, Saúde e Processos de Subjetivação (LATRAPS-UEMG), acerca da plataformização do trabalho na psicologia clínica no Brasil.

A pesquisa foi coordenada pelo psicólogo e pesquisador Matheus Viana Braz, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), e contou com a participação dos(as) seguintes pesquisadores(as): Amanda Thuns Biazzi (UEM), Caroline de Cuffa (UEM), Thiago Casemiro Mendes (FANS/ PUC-MG), Victor Martins dos Santos (UEMG) e Yasmin Alexandre Ferreira (UEMG). Considerando a crescente digitalização e plataformização da psicologia clínica, apresentam-se resultados preliminares de uma investigação cujo objetivo foi compreender os impactos dos atendimentos online e da produção de conteúdos em mídias sociais na saúde de psicólogos(as) clínicos(as). Em termos metodológicos, foram realizadas entrevistas, aplicação de um questionário e de uma escala para avaliação do tecnoestresse em uma amostra de 170 participantes.

Os(as) pesquisadores(as) argumentam que as mídias sociais são também plataformas de trabalho, de modo que a produção de conteúdo é mais um trabalho que se soma à jornada dos(as) psicólogos(as), profissionais estes que historicamente já tendem a acumular dois ou mais vínculos de trabalho para assegurarem sua subsistência. No âmbito da saúde mental, alguns dados chamam atenção na pesquisa:

  • 32% relatam exaustão cognitiva e emocional devido ao uso de tecnologias para realizar os atendimentos;

  • 54% relatam se sentir pressionados pela lógica de produtividade exigida das plataformas de mídias sociais;

  • 28% destacam a dificuldade em separar espaço profissional e espaço familiar devido ao trabalho remoto;

  • 40% apresentam índices médios de tecnoestresse e 9% altos índices;

  • No âmbito das dimensões que compõem o tecnoestresse, 32% apresentam altos índices de fadiga e 20% altos índices de ansiedade atrelada ao uso de TICs;

  • Dentre os(as) psicólogos(as) com altos índices de tecnoestresse:

    • 93% são mulheres;

    • 73% dizem se sentir pressionados pela lógica de produtividade exigida pelas plataformas;

    • 53% possuem dois ou mais vínculos de trabalho;

    • 40% manifestam dificuldades para se desligar do trabalho;

    • Somente 13% avaliam sua saúde emocional para realizar seus trabalhos remotamente como “ruim” ou “muito ruim”, o que indica que o tecnoestresse tende a não ser percebido imediatamente pelos(as) profissionais.

Ao publicar esse relatório, almeja-se ampliar os espaços de discussões sobre a plataformização da psicologia em território nacional, para além do contexto universitário.

Espera-se subsidiar investigações e debates futuros sobre as transformações do trabalho da Psicologia Clínica, sobretudo no âmbito de suas convergências com a plataformização, digitalização e uberização do trabalho. Ao mesmo tempo, busca-se contribuir com os conselhos regionais e federal de Psicologia, com vistas à delinear ações de sensibilização e proteção à saúde dos(as) trabalhadores(as), em face dos complexos desafios e contradições que atravessam nosso ofício.

Acesse o relatório completo clicando aqui.


Para mais informações, consulte os autores.